Sujeito Dividido em Lacan

O conceito de sujeito dividido na teoria de Lacan é um elemento central para compreender a psicanálise. Segundo Lacan, o sujeito não é uma entidade unificada e coerente, mas sim uma construção complexa e fragmentada. Essa divisão interna do sujeito ocorre entre o eu consciente e o inconsciente, entre o desejo e a moral.

No contexto da teoria de Lacan, o sujeito é concebido como uma estrutura psíquica em constante conflito. O eu consciente representa a parte do sujeito que está em contato com a realidade e com a sociedade. É a instância¹ que conhecemos como a nossa identidade individual, formada por nossas experiências, memórias e percepções conscientes.

No entanto, o eu consciente está em constante interação com o inconsciente, que é a parte oculta e reprimida da psique. O inconsciente abriga desejos, impulsos e memórias que não são acessíveis à consciência, mas que exercem uma influência significativa sobre o comportamento e os pensamentos do indivíduo.

Essa divisão do sujeito entre o eu consciente e o inconsciente é fundamental para entender os processos psíquicos e as dinâmicas internas que moldam o comportamento humano. Lacan argumenta que o eu consciente é apenas uma pequena parte do sujeito total, sendo o inconsciente responsável por grande parte de nossas motivações e desejos.

Além disso, Lacan enfatiza que essa divisão interna do sujeito não é apenas uma questão individual, mas também está profundamente enraizada na dinâmica social e cultural. O sujeito é moldado pelas normas, valores e ideologias da sociedade em que está inserido, o que gera conflitos entre o desejo individual e as exigências morais e sociais.

Nesse sentido, Lacan propõe que o processo de análise psicanalítica tem como objetivo trazer à tona o inconsciente reprimido e promover uma reconciliação entre o eu consciente e o inconsciente. Isso envolve explorar os desejos inconscientes, as fantasias e os traumas que influenciam o comportamento do sujeito. Ao trazer à luz esses conteúdos reprimidos, o sujeito pode obter uma compreensão mais profunda de si mesmo e encontrar uma maior integração psíquica.

Em resumo, a teoria de Lacan sobre o sujeito dividido destaca a complexidade da psique humana e a importância do inconsciente na formação da identidade e do comportamento. O sujeito não é uma entidade unitária, mas sim uma construção fragmentada e em constante conflito entre o eu consciente e o inconsciente. A análise psicanalítica busca trazer à tona esses conteúdos reprimidos, visando uma maior integração psíquica e uma compreensão mais profunda do sujeito.

Em seus escritos, Jacques Lacan menciona o conceito de sujeito dividido em vários de seus livros. Alguns dos livros em que esse conceito é abordado incluem:

  1. "O Seminário, Livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise"
  2. "O Seminário, Livro 10: A angústia"
  3. "O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise"
  4. "O Seminário, Livro 16: De um Outro ao outro"
  5. "O Seminário, Livro 20: Mais, ainda"
  6. "O Seminário, Livro 23: O sinthoma"

Esses são apenas alguns exemplos de livros em que Lacan explora o tema do sujeito dividido. Sua obra é vasta e complexa, abrangendo diversos aspectos da teoria psicanalítica.

Notas:

  1. A instância é a parte do sujeito consciente que está em contato com a realidade e com a sociedade. É a nossa identidade individual formada por experiências, memórias e percepções conscientes. No entanto, ela está em constante interação com o inconsciente, que é a parte oculta e reprimida da psique.

26 de janeiro de 2024

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