Pular para o conteúdo principal

Discurso Universitário em Lacan

O discurso universitário é um conceito fundamental na teoria de Lacan. Nesse contexto, Lacan utiliza o termo "universitário" de uma maneira específica, referindo-se não apenas ao ambiente acadêmico, mas também a um modo de funcionamento do sujeito.

De acordo com Lacan, o discurso universitário é caracterizado por uma ênfase na produção do conhecimento e na busca pela verdade. É um discurso que se baseia na lógica formal e na organização racional do pensamento. O sujeito que se coloca no lugar do agente no discurso universitário busca dominar o saber, acumular conhecimento e se destacar intelectualmente.

No entanto, Lacan ressalta que o discurso universitário também tem suas limitações. Ele destaca que o sujeito que se fixa nesse discurso está preso a uma busca incessante por conhecimento, muitas vezes sacrificando outras dimensões de sua vida. Além disso, o discurso universitário pode levar a uma alienação do próprio sujeito, que se identifica excessivamente com seu papel de "sabedor" e se distancia de sua subjetividade.

Lacan aponta que o discurso universitário está em constante relação com outros discursos, como o discurso do mestre, o discurso da histérica e o discurso do analista. Esses discursos representam diferentes formas de relação com o saber e com o desejo¹.

É importante destacar que, na teoria de Lacan, o discurso universitário não é visto como algo negativo em si mesmo. Ele reconhece a importância do conhecimento e do pensamento racional² na vida humana. No entanto, Lacan alerta para os perigos de se fixar exclusivamente nesse discurso, sem levar em consideração outras dimensões da existência e do inconsciente.

Em resumo, o discurso universitário na teoria de Lacan refere-se a um modo específico de funcionamento do sujeito, caracterizado pela busca pelo conhecimento e pela verdade. Embora tenha suas vantagens, o discurso universitário também apresenta limitações e perigos, como a alienação do sujeito e a negação de outras dimensões da vida. É importante considerar a relação do discurso universitário com outros discursos para uma compreensão mais ampla do sujeito e de sua relação com o saber e com o desejo.

O discurso universitário é citado em vários livros de Lacan. Alguns exemplos incluem:

  1. "O Seminário, Livro 17: O Avesso da Psicanálise" - Neste livro, Lacan explora o discurso universitário em relação ao discurso do analista e discute a relação entre o conhecimento e a prática psicanalítica.
  2. "O Seminário, Livro 20: Mais, Ainda" - Neste seminário, Lacan discute o discurso universitário em relação ao discurso do mestre e examina como o conhecimento pode ser utilizado para exercer poder sobre os outros.
  3. "O Seminário, Livro 23: O Sinthoma" - Neste seminário, Lacan aborda o discurso universitário em relação ao discurso da histérica e explora as questões de identificação e alienação presentes nesse discurso.

É importante ressaltar que Lacan aborda o discurso universitário em diversos outros textos e seminários, pois é um conceito central em sua teoria psicanalítica.

Notas:

  1. O desejo é um elemento fundamental na teoria de Lacan. Ele representa uma força motriz que impulsiona o sujeito e influencia suas ações e escolhas. O desejo não se limita apenas a desejos conscientes e superficiais, mas também engloba desejos inconscientes e reprimidos. Lacan enfatiza a importância de explorar e compreender o desejo para uma análise mais profunda do sujeito e de sua relação com o mundo e consigo mesmo.
  2. O pensamento racional é uma abordagem lógica e organizada do processo de pensar, baseada em princípios de razão e evidência. Envolve a análise sistemática dos fatos, o uso de argumentos coerentes e a busca pela verdade objetiva. O pensamento racional desempenha um papel importante no discurso universitário em Lacan, onde é valorizado como uma ferramenta para a produção de conhecimento e a compreensão da realidade. No entanto, é importante reconhecer que o pensamento racional não é o único modo de pensar válido e que outras formas de conhecimento, como a intuição e a experiência pessoal, também têm seu valor na compreensão do mundo e de si mesmo.

21 de janeiro de 2024

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Repetição em Lacan

A repetição é um conceito central e complexo na teoria de Jacques Lacan, que merece uma análise mais aprofundada. Lacan, um renomado psicanalista francês do século XX, desenvolveu uma abordagem única para compreender a repetição e sua relação com o inconsciente, o desejo e a formação da identidade. De acordo com Lacan, a repetição está intrinsecamente ligada à natureza do inconsciente. Ele argumenta que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, e que a repetição é um dos mecanismos pelos quais o inconsciente se manifesta. Dessa forma, a repetição é uma forma de o sujeito lidar com os traumas, os desejos reprimidos¹ e os conflitos que estão presentes em seu inconsciente. Através da repetição, o sujeito tenta simbolizar e dar sentido a essas experiências inconscientes, buscando compreendê-las e integrá-las em sua vida consciente. No entanto, Lacan vai além ao explorar a relação entre a repetição e o desejo. Ele sugere que a repetição está relacionada à busca contínua do sujeito...

Ideal do Eu em Lacan

O conceito de "Ideal do Eu" na teoria de Jacques Lacan desempenha um papel fundamental na compreensão da psique humana. Lacan, um renomado psicanalista francês do século XX, desenvolveu uma abordagem única para a psicanálise, influenciada pela teoria de Sigmund Freud. O Ideal do Eu refere-se à imagem idealizada que cada indivíduo constrói de si mesmo. É uma representação imaginária que se forma a partir das influências sociais, culturais e familiares. Lacan argumenta que essa imagem idealizada é construída através do que ele chama de "o olhar do Outro". O Outro é a figura do outro significativo, como os pais, que desempenha um papel crucial na formação do Ideal do Eu. Segundo Lacan, o Ideal do Eu é uma ilusão¹ , uma vez que ninguém pode realmente alcançar a perfeição que essa imagem idealizada representa. No entanto, essa ilusão é uma parte essencial do psiquismo humano, pois influencia a maneira como nos vemos e como nos relacionamos com os outros. Uma das princ...