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Processo de Subjetivação em Lacan

O processo de subjetivação na teoria de Lacan é um conceito fundamental para compreender a formação e constituição do sujeito. Lacan propõe uma abordagem psicanalítica única, que vai além do entendimento tradicional do sujeito como uma entidade estável e unificada.

Segundo Lacan, o sujeito não nasce pronto, mas é construído ao longo do tempo através das interações com o mundo e os outros. A subjetivação envolve a construção da identidade, dos desejos e das relações interpessoais, e é influenciada por fatores sociais, culturais e históricos.

Para Lacan, a subjetivação é um processo complexo que se desenvolve em três principais etapas: o Imaginário, o Simbólico e o Real. No estágio do Imaginário, o sujeito se identifica com uma imagem idealizada de si mesmo, que é construída a partir das expectativas e demandas da sociedade. Nesse estágio, o sujeito busca ser reconhecido e aceito pelos outros, e a imagem que ele forma de si mesmo pode ser influenciada por ideais inatingíveis¹.

No estágio do Simbólico, o sujeito é inserido na ordem simbólica da linguagem e dos sistemas de significação. É nesse estágio que a linguagem desempenha um papel crucial na construção do sujeito, pois é através da linguagem que os significados e os valores são atribuídos. O sujeito internaliza as normas e os símbolos da sociedade, e a linguagem se torna uma ferramenta fundamental para expressar desejos e se relacionar com os outros.

O estágio do Real é o mais complexo e paradoxal². Lacan argumenta que o Real é uma dimensão que escapa à simbolização e à representação. Ele está além das palavras e dos conceitos, e é caracterizado pela falta e pela incompletude. O Real é o que não pode ser totalmente conhecido ou simbolizado, mas que afeta o sujeito de maneiras sutis e inconscientes.

Ao longo do processo de subjetivação, o sujeito enfrenta desafios e conflitos que podem levar a rupturas e reconfigurações de sua identidade. A subjetivação não é um processo linear e contínuo, mas sim um movimento constante de negociação entre diferentes identificações e significados.

É importante ressaltar que a teoria de Lacan sobre o processo de subjetivação não é uma explicação definitiva ou universal. Ela é uma abordagem complexa e multifacetada que busca explorar as dimensões inconscientes e simbólicas da experiência humana. Cada sujeito vive seu próprio processo de subjetivação de maneira única e individual.

Em suma, o processo de subjetivação na teoria de Lacan é um conceito-chave para compreender a formação e constituição do sujeito. Ele envolve a construção da identidade, dos desejos e das relações interpessoais, e é influenciado por fatores sociais, culturais e históricos. Através dos estágios do Imaginário, do Simbólico e do Real, o sujeito se desenvolve e se transforma ao longo da vida, enfrentando desafios e buscando significados em sua jornada subjetiva.

Nos livros de Lacan, o processo de subjetivação é discutido em várias obras, sendo algumas das principais:

  1. "O Seminário, Livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise"
  2. "O Seminário, Livro 3: As psicoses"
  3. "O Seminário, Livro 10: A angústia"
  4. "O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise"
  5. "O Seminário, Livro 16: De um Outro ao outro"
  6. "O Seminário, Livro 17: O avesso da psicanálise"
  7. "O Seminário, Livro 20: Mais, ainda"
  8. "O Seminário, Livro 23: O sinthoma"

É importante destacar que o processo de subjetivação é abordado em diferentes contextos e perspectivas ao longo dessas obras. Recomenda-se uma leitura mais aprofundada em cada livro para compreender as nuances e contribuições específicas de Lacan sobre o tema.

Notas:

  1. O conceito de ideais inatingíveis na teoria de Lacan refere-se à imagem idealizada que o sujeito forma de si mesmo, influenciada pelas expectativas e demandas da sociedade. Nesse estágio do processo de subjetivação, o sujeito busca ser reconhecido e aceito pelos outros, porém, a imagem que ele forma de si mesmo muitas vezes é baseada em padrões inatingíveis. Esses ideais inatingíveis podem gerar frustração e conflito, levando o sujeito a questionar sua identidade e buscar significados além das expectativas impostas.
  2. O estágio do Real, na teoria de Lacan, é caracterizado pela dimensão paradoxal. É uma dimensão que escapa à simbolização e à representação, estando além das palavras e dos conceitos. O Real é caracterizado pela falta e pela incompletude, afetando o sujeito de maneiras sutis e inconscientes.

30 de janeiro de 2024

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