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Identificação Simbólica em Lacan

A identificação simbólica desempenha um papel fundamental na teoria de Lacan. É um processo pelo qual o sujeito se conecta com determinados significantes e símbolos culturais, buscando construir uma identidade e encontrar seu lugar no mundo.

Para compreender a identificação simbólica em Lacan, é necessário entender a ideia de que o sujeito se constitui a partir da linguagem. Lacan argumenta que a linguagem é o que nos permite nos relacionar com o mundo e com os outros, e é através dela que construímos nossa subjetividade.

No processo de identificação simbólica, o sujeito se apropria de significantes que circulam na cultura, como palavras, imagens e conceitos, e os incorpora em sua própria identidade. Esses significantes não são apenas meros símbolos, mas também possuem um significado simbólico que é compartilhado socialmente. Ao se identificar com esses significantes, o sujeito busca encontrar um sentido de pertencimento e reconhecimento dentro da cultura em que está inserido.

A identificação simbólica também está relacionada à formação do eu ideal. Lacan argumenta que o sujeito se identifica com uma imagem idealizada de si mesmo, conhecida como eu ideal. Essa imagem é construída a partir das expectativas e ideais da sociedade, e representa o que o sujeito aspira ser. Ao se identificar com o eu ideal, o sujeito busca se adequar aos padrões e normas estabelecidos pela cultura.

No entanto, a identificação simbólica não é um processo simples e linear. Lacan enfatiza que a identificação é sempre parcial e falha, pois o sujeito nunca consegue se identificar completamente com os significantes¹ que escolhe. Sempre há uma falta, uma impossibilidade de se tornar plenamente aquele símbolo idealizado. Essa falta é o que impulsiona o sujeito a buscar novas identificações e a continuar o processo de construção de sua identidade.

Além disso, Lacan destaca que a identificação simbólica também está ligada ao imaginário e ao real. O imaginário refere-se à dimensão ilusória da identificação, em que o sujeito constrói uma imagem idealizada de si mesmo. Já o real representa a dimensão do impossível, da falta que nunca pode ser preenchida completamente. A identificação simbólica é um ponto de encontro entre o imaginário, o simbólico e o real, em que o sujeito busca construir uma identidade que lida com essas diferentes dimensões.

Em resumo, a identificação simbólica na teoria de Lacan refere-se ao processo pelo qual o sujeito se conecta com significantes e símbolos culturais², buscando construir uma identidade e encontrar seu lugar no mundo. Essa identificação é parcial e falha, nunca permitindo uma identificação completa com os significantes escolhidos. É um processo complexo que envolve o imaginário, o simbólico e o real, e está relacionado à formação do eu ideal e à busca por pertencimento e reconhecimento na cultura.

A identificação simbólica é um conceito central na teoria de Lacan e é mencionada em vários de seus livros. Alguns dos livros em que a identificação simbólica é citada incluem:

  • "O Seminário, Livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise"
  • "O Seminário, Livro 3: As psicoses"
  • "O Seminário, Livro 5: As formações do inconsciente"
  • "O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise"
  • "O Seminário, Livro 16: De um Outro ao outro"
  • "O Seminário, Livro 20: Mais, ainda"
  • "O Seminário, Livro 23: O sinthoma"
  • "O Seminário, Livro 24: L'insu que sait de l'une-bévue s'aile à mourre"
  • "Escritos"

Esses são apenas alguns exemplos dos livros de Lacan em que a identificação simbólica é discutida. É importante notar que o conceito de identificação simbólica permeia toda a obra de Lacan e está presente em muitos outros textos e seminários.

Notas:

  1. Os "significantes" são elementos simbólicos, como palavras, imagens e conceitos, que são incorporados pelo sujeito em sua identidade e têm um significado compartilhado socialmente. Esses significantes desempenham um papel fundamental na teoria de Lacan, pois o sujeito se identifica com eles para construir sua subjetividade e encontrar seu lugar no mundo.
  2. Os símbolos culturais são elementos importantes na identificação simbólica em Lacan. Eles são significados compartilhados socialmente, como palavras, imagens e conceitos, que o sujeito incorpora em sua identidade para construir sua subjetividade e encontrar seu lugar no mundo.

29 de janeiro de 2024

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