Ruptura Subjetiva em Lacan

A ruptura subjetiva desempenha um papel fundamental na teoria de Lacan, sendo um momento crucial em que o sujeito se depara com uma experiência traumática ou um abalo emocional que desestabiliza sua identidade e suas crenças¹. Nesse contexto, Lacan busca compreender como essa ruptura afeta a constituição do sujeito e sua relação com o mundo.

De acordo com Lacan, a ruptura subjetiva ocorre quando o sujeito se depara com algo que não pode ser assimilado dentro de sua estrutura psíquica existente. Isso pode ser um evento traumático, como uma perda significativa, um choque emocional intenso ou uma experiência que desafia suas crenças e valores fundamentais. Essa experiência disruptiva rompe com a ordem simbólica estabelecida, abrindo espaço para a emergência de novos significados e possibilidades.

Lacan argumenta que a ruptura subjetiva é um ponto crucial na transformação do sujeito, pois desafia as concepções prévias de si mesmo e do mundo. Nesse momento, o sujeito é confrontado com a falta e o vazio, sendo levado a questionar suas identificações e buscar novos sentidos. A experiência traumática ou o abalo emocional são vivenciados como uma perda, mas também como uma oportunidade para uma reinvenção subjetiva.

A partir dessa perspectiva, Lacan desenvolve o conceito de "atravessamento da fantasia". Ele argumenta que a fantasia é uma construção psíquica que busca preencher a falta e sustentar a identidade do sujeito. No entanto, quando ocorre a ruptura subjetiva, a fantasia² é confrontada e revelada como uma ilusão. O sujeito é confrontado com a impossibilidade de sustentar sua identidade anterior e é levado a enfrentar a falta fundamental.

Lacan propõe que o atravessamento da fantasia é um processo necessário para a reconstrução subjetiva após a ruptura. É um movimento em direção à verdade do sujeito, um desvelamento das ilusões e das identificações imaginárias. Esse processo envolve enfrentar o vazio, a falta e os desejos inconscientes, permitindo ao sujeito construir uma nova relação consigo mesmo e com o mundo.

A ruptura subjetiva na teoria de Lacan também está intrinsecamente ligada à ideia de desejo. Lacan argumenta que a experiência da ruptura desencadeia um despertar do desejo, pois revela a falta e a impossibilidade de completude. O sujeito é confrontado com o fato de que seus desejos não podem ser plenamente satisfeitos, o que o impulsiona a buscar novas formas de lidar com o desejo e encontrar satisfação simbólica³.

Em resumo, a ruptura subjetiva na teoria de Lacan é um momento em que o sujeito se depara com uma experiência traumática ou um abalo emocional que desestabiliza sua identidade e suas crenças. Essa ruptura desafia as concepções prévias de si mesmo e do mundo, abrindo espaço para a emergência de novos significados e possibilidades. O atravessamento da fantasia e o despertar do desejo são processos fundamentais nesse contexto, permitindo ao sujeito reconstruir sua relação consigo mesmo e com o mundo de forma mais autêntica e satisfatória.

Em seus escritos, Lacan aborda o conceito de ruptura subjetiva em vários livros e textos. Alguns dos livros de Lacan em que a ruptura subjetiva é discutida incluem:

  1. "O Seminário, livro 1: Os Escritos Técnicos de Freud"
  2. "O Seminário, livro 2: O Eu na Teoria de Freud e na Técnica da Psicanálise"
  3. "O Seminário, livro 3: As Psicoses"
  4. "O Seminário, livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise"
  5. "O Seminário, livro 16: De um Outro ao outro"

Esses livros são alguns exemplos dos escritos de Lacan nos quais a ruptura subjetiva é abordada. No entanto, é importante notar que o conceito de ruptura subjetiva perpassa toda a obra de Lacan e está presente em muitos de seus textos e seminários.

Notas:

  1. As crenças desempenham um papel fundamental na teoria de Lacan. A ruptura subjetiva desafia as crenças prévias do sujeito, levando-o a questionar suas identificações e buscar novos sentidos. Essa experiência disruptiva rompe com a ordem simbólica estabelecida, abrindo espaço para a emergência de novos significados e possibilidades. A ruptura subjetiva é um momento de transformação e reinvenção, no qual o sujeito é confrontado com a falta e o vazio, sendo levado a reconstruir sua relação consigo mesmo e com o mundo de forma mais autêntica e satisfatória.
  2. Na teoria de Lacan, a "fantasia" é uma construção psíquica que busca preencher a falta e sustentar a identidade do sujeito. No entanto, quando ocorre a ruptura subjetiva, a fantasia é confrontada e revelada como uma ilusão. O sujeito é confrontado com a impossibilidade de sustentar sua identidade anterior e é levado a enfrentar a falta fundamental. O atravessamento da fantasia é um processo necessário para a reconstrução subjetiva após a ruptura, envolvendo o enfrentamento do vazio, da falta e dos desejos inconscientes. Esse processo permite ao sujeito construir uma nova relação consigo mesmo e com o mundo.
  3. A satisfação simbólica é um conceito-chave na teoria de Lacan. Refere-se à busca do sujeito por uma sensação de plenitude e satisfação através das representações simbólicas. No contexto da ruptura subjetiva, a satisfação simbólica torna-se fundamental, uma vez que o sujeito é confrontado com a impossibilidade de satisfazer completamente seus desejos. Assim, o sujeito é impulsionado a encontrar formas simbólicas de lidar com o desejo e buscar uma sensação de satisfação dentro das limitações simbólicas da linguagem e da cultura.

27 de janeiro de 2024

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