O discurso da histeria, na teoria de Lacan, é uma forma de organização discursiva que é marcada pela ambiguidade¹, pelos jogos de sedução e pelos conflitos emocionais. Lacan utiliza o conceito de histeria como um dos quatro discursos que ele propõe para descrever as dinâmicas subjacentes à linguagem e à estrutura do sujeito.
A histeria é caracterizada por uma série de elementos que a distinguem dos outros discursos. Primeiramente, a histeria é marcada por uma ambivalência e uma ambiguidade inerentes. O sujeito histérico muitas vezes se encontra em um estado de conflito interno, oscilando entre diferentes desejos e identidades. Essa ambiguidade é expressa através de jogos de sedução, nos quais o sujeito busca obter atenção e reconhecimento do outro.
Além disso, a histeria é uma forma de discurso que está intimamente ligada aos conflitos emocionais. O sujeito histérico muitas vezes experimenta emoções intensas e contraditórias, que podem ser expressas através de sintomas físicos ou psicológicos. Esses sintomas são uma expressão simbólica dos conflitos internos e das demandas não atendidas do sujeito histérico.
Lacan também destaca a importância do Outro² na dinâmica do discurso da histeria. O Outro, como figura de autoridade ou objeto de desejo, desempenha um papel central na constituição da identidade do sujeito histérico. O sujeito histérico busca a aprovação e o reconhecimento do Outro, mas ao mesmo tempo desafia e questiona sua autoridade.
É importante ressaltar que o discurso da histeria não se limita apenas às mulheres. Embora historicamente a histeria tenha sido associada principalmente às mulheres, Lacan enfatiza que tanto homens quanto mulheres podem manifestar características histéricas. A histeria é uma forma de discurso que transcende as categorias de gênero e está relacionada às dinâmicas psíquicas e sociais mais amplas.
No contexto da teoria de Lacan, o discurso da histeria desempenha um papel crucial na compreensão da estrutura do sujeito e das dinâmicas da linguagem. Através da análise do discurso da histeria, Lacan busca revelar as formas pelas quais o sujeito é constituído através da linguagem e como as identidades e desejos são moldados por essa estrutura simbólica.
Em resumo, o discurso da histeria na teoria de Lacan é uma forma de organização discursiva marcada pela ambiguidade, pelos jogos de sedução e pelos conflitos emocionais. É uma expressão simbólica dos conflitos internos do sujeito e das demandas não atendidas. O Outro desempenha um papel central na dinâmica da histeria, e a histeria transcende as categorias de gênero. O estudo do discurso da histeria é fundamental para compreender a estrutura do sujeito e as dinâmicas da linguagem na teoria lacaniana.
No trabalho de Lacan, o discurso da histeria é mencionado em vários de seus livros, incluindo:
- "O Seminário, Livro 1: Os escritos técnicos de Freud" (1953-1954)
- "O Seminário, Livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise" (1954-1955)
- "O Seminário, Livro 3: As psicoses" (1955-1956)
- "O Seminário, Livro 4: A relação de objeto" (1956-1957)
- "O Seminário, Livro 5: As formações do inconsciente" (1957-1958)
- "O Seminário, Livro 6: O desejo e sua interpretação" (1958-1959)
- "O Seminário, Livro 10: A angústia" (1962-1963)
- "O Seminário, Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise" (1964)
- "O Seminário, Livro 17: O avesso da psicanálise" (1969-1970)
Esses são apenas alguns exemplos dos livros em que Lacan aborda o discurso da histeria. É importante observar que, para uma compreensão mais aprofundada do tema, é recomendado consultar os textos originais de Lacan.
Notas:
- A ambiguidade é uma característica fundamental do discurso da histeria em Lacan. Nesse contexto, a ambiguidade se refere à presença de múltiplos sentidos e interpretações possíveis. O sujeito histérico muitas vezes oscila entre diferentes desejos e identidades, criando uma atmosfera de incerteza e ambivalência. Essa ambiguidade é expressa através de jogos de sedução, nos quais o sujeito busca obter atenção e reconhecimento do outro.
- O termo "Outro" na teoria de Lacan refere-se a uma figura de autoridade ou objeto de desejo que desempenha um papel central na constituição da identidade do sujeito histérico. O sujeito histérico busca a aprovação e o reconhecimento do Outro, mas ao mesmo tempo desafia e questiona sua autoridade.
21 de janeiro de 2024
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