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Real, Simbólico e Imaginário para Lacan e o mito da relação sexual

Na teoria de Jacques Lacan, os conceitos de real, simbólico e imaginário são fundamentais para entender a estruturação do psiquismo humano.

O real é aquilo que está fora do alcance da linguagem e da simbolização, é o inacessível, o que escapa à representação simbólica. Para Lacan, o real é o que resiste à nossa capacidade de simbolizar e de representar. É algo que está além do simbólico e do imaginário, e é frequentemente associado a experiências traumáticas ou a eventos que desafiam nossa compreensão do mundo.

O simbólico, por sua vez, é a dimensão da linguagem e da cultura, que possibilita a nossa capacidade de atribuir significados aos objetos e aos eventos. É o conjunto de significados e de sistemas simbólicos que estrutura nossa experiência e nos permite interagir com o mundo. O simbólico é o lugar da lei, da ordem, das regras e dos valores.

Finalmente, o imaginário é a dimensão das imagens e das representações mentais. É a esfera das fantasias, dos sonhos, das imagens visuais e das emoções. É por meio do imaginário que nos construímos enquanto sujeitos, criando representações de nós mesmos e dos outros. O imaginário é um campo de tensão entre as nossas identificações e a realidade que nos cerca.

Para Lacan, essas três dimensões não são independentes, mas estão sempre em interação e influenciando-se mutuamente. A maneira como o sujeito se relaciona com o real, o simbólico e o imaginário é fundamental para a compreensão da dinâmica psíquica e da estruturação do sujeito.

Lacan afirma que não há relação sexual porque ele entende que a sexualidade humana é estruturada pela linguagem e pela cultura, e não por instintos biológicos ou por fatores meramente físicos.

Para Lacan, a sexualidade é uma construção simbólica que se dá no encontro entre dois sujeitos, cada um deles marcado pela sua própria história e pela sua própria linguagem. Essa construção simbólica envolve fantasias, desejos, projeções e identificações que são mediadas pela linguagem e pelas normas culturais.

No entanto, essa mediação simbólica não consegue suprir a falta que há na relação sexual, a falta do encontro pleno e absoluto entre dois seres humanos. Essa falta está relacionada ao fato de que cada sujeito é marcado pela sua própria singularidade, o que faz com que a relação sexual seja sempre incompleta e impossível de ser plenamente realizada.

Assim, para Lacan, a ideia de que há uma relação sexual completa e satisfatória é uma ilusão, já que a sexualidade é sempre atravessada pela falta e pela incompletude. A busca por uma relação sexual plena e satisfatória é uma busca constante e inalcançável, que só pode ser mitigada através da construção de fantasias e das elaborações simbólicas.

10 de abril de 2023

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