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Bissexualidade e o Mito de Andrógeno

A psicanálise é uma teoria e prática clínica que busca compreender o funcionamento psíquico humano, incluindo as questões relacionadas à sexualidade. Na psicanálise, a bissexualidade é definida como a capacidade de um indivíduo sentir atração sexual e/ou afetiva tanto por pessoas do mesmo sexo quanto por pessoas do sexo oposto.

De acordo com a teoria psicanalítica, todos os seres humanos possuem uma energia sexual, também conhecida como libido, que é direcionada para objetos de desejo, como pessoas, ideias, projetos (trabalho), entre outros. A orientação sexual de um indivíduo é moldada por diversos fatores, como sua história de vida, experiências afetivas e sexuais, além de influências culturais e sociais.

Segundo a teoria psicanalítica, a bissexualidade é uma característica universal da psique humana, presente em todas as pessoas em maior ou menor grau. Freud, em seus estudos sobre a sexualidade, afirmou que a bissexualidade é um estágio normal do desenvolvimento psicossexual infantil, sendo que as pessoas podem permanecer nesse estágio ou avançar para a orientação heterossexual ou homossexual ao longo da vida.

No entanto, é importante destacar que a bissexualidade pode ser vivida de maneiras diferentes por diferentes indivíduos, e a psicanálise não busca classificar ou julgar as diversas formas de vivência da sexualidade. O objetivo da psicanálise é proporcionar um espaço de acolhimento e compreensão para que os indivíduos possam lidar com suas questões afetivas e sexuais de forma mais saudável e satisfatória.

O mito do andrógino é uma narrativa presente em algumas tradições culturais que descreve a origem da humanidade como resultado da união de seres andróginos, ou seja, que possuíam os dois sexos em um só corpo. Esses seres teriam sido separados pelo poder divino em duas partes, macho e fêmea, como forma de punição por terem desafiado os deuses. Desde então, os seres humanos buscam sua outra metade para se completarem.

Na psicanálise, o mito do andrógino é frequentemente utilizado como metáfora para explicar a busca do ser humano por um objeto de amor que possa suprir a sensação de falta e incompletude que habita em sua psique. De acordo com a teoria psicanalítica, essa sensação de falta é inerente ao ser humano e está relacionada à experiência de separação entre o bebê e a mãe, que ocorre no momento do nascimento.

A busca pela complementação e unificação com o outro é vista como uma tentativa de restaurar a sensação de unidade e plenitude que o indivíduo teria experimentado antes da separação. Essa busca pode se manifestar de diversas formas, incluindo a busca por um parceiro amoroso ou a busca por outras formas de completude, como a realização profissional ou a prática de hobbies e atividades que proporcionem satisfação pessoal.

O mito do andrógino é utilizado na psicanálise como uma forma de compreender a complexidade dos processos psicológicos envolvidos na formação do sujeito, bem como na busca por satisfação e felicidade. A compreensão do mito do andrógino pode ajudar o indivíduo a entender suas próprias motivações e desejos, bem como a encontrar caminhos para lidar com suas questões afetivas e emocionais de forma mais saudável e satisfatória.

05 de março de 2023

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